Nossa Senhora da Penha, a Padroeira
1. Culto a Nossa Senhora da Penha
Existia no norte da Espanha uma serra muito alta e íngreme chamada Penha de França, na qual o Rei Carlos Magno teria lutado contra os Mouros, desbaratando-os.
Por volta de 1434, certo monge francês sonhou com uma imagem de Nossa Senhora que lhe apareceu no topo de escarpada montanha, cercada de luz e acenando para que ele fosse procurá-la. Simão Vela, ou Simão de Paris, assim se chamava o monge, durante cinco anos andou procurando a mencionada serra, até que um dia teve a indicação de sua localização e para lá se dirigiu. Após três dias de intensa caminhada e escalando penhas íngremes, o monge parou para descansar, quando viu sentada perto dele uma formosa Senhora com o Filho ao colo, que lhe indicou o lugar onde encontraria o que procurava. Auxiliado por alguns pastores da região, conseguiu achar a imagem que avistara em sonho.
Construiu Simão Vela uma tosca ermida neste local, que logo se tornou célebre pelo grande número de milagres alcançados por intermédio da Senhora da Penha e, mais tarde, ali foi construído um dos mais ricos e grandiosos santuários da cristandade.
Em Portugal, o culto de Nossa Senhora da Penha iniciou-se após a batalha de Alcácer-Quibir.
Naquela época, uma peste assolou o país e, como a Espanha se livrara do flagelo graças à intervenção de Nossa Senhora da Penha, o Senado da Câmara de Lisboa prometeu à Mãe de Deus construir-lhe um grandioso templo, se Ela livrasse a cidade da moléstia. Extinguiu-se a epidemia quase subitamente, e a Câmara mandou edificar magnífico santuário naquele local. Este templo passou a atrair milhares de peregrinos e em certa ocasião um devoto, tendo subido ao alto da penedia, vencido pelo cansaço adormeceu. Uma grande cobra aproximou-se para picá-lo quando um enorme lagarto saltou sobre ele despertando-o a tempo de matara serpente com o seu bastão. Essa é a razão pela qual a imagem de Nossa Senhora da Penha tem aos pés um peregrino, a cobra e o lagarto
2. O Convento da Penha, em Vitória
Durante o Governo de Vasco Fernandes Coutinho, na Capitania do Espírito Santo, chegou a Vitória (Vila Velha) Frei Pedro Palácios, franciscano espanhol, que trazia na sua bagagem um belíssimo quadro de Nossa Senhora, o mesmo que ainda existe no Convento da Penha de Vitória.
Na azáfama do desembarque, não notaram os companheiros o desaparecimento do santo frade e somente após dois dias acharam-no numa gruta ao pé da montanha, onde havia exposto o painel da Virgem, convidando os fiéis à prece e à meditação.
Certo dia os devotos não encontraram Frei Pedro e nem o Painel. Pelo latido do cãozinho que sempre o acompanhava, descobriram-no na escarpa do morro que domina a bela Baía de Vitória. Contou então que o painel havia desaparecido e ele estava a procurá-lo. Após ingentes esforços, um grupo de pessoas conseguiu atingir o cume do monte e ali, entre duas palmeiras, encontraram a pintura. Religiosamente foi a tela reconduzida à gruta, mas, algum tempo depois, o quadro da Virgem novamente desapareceu, sendo encontrado ainda uma vez no píncaro, entre as duas palmeiras. Resolveu então o frade construir uma ermida no cume do penhasco, e ele mesmo, velho e alquebrado, carregou os primeiros materiais até o lugar da capela.
Ao fazer explorações preliminares para a construção da projetada ermida, retirando algumas pedras soltas que se achavam debaixo das palmeiras, descobriu de repente um manancial suficiente para as obras. Era a Senhora da Penha que recompensava a fé de seu carinhoso servo.
Realizado o seu grande sonho, a Igreja foi solenemente inaugurada a 1°. de maio de 1570 e, enquanto se elevavam os foguetes e as manifestações de alegria dos que ali se encontravam, subiu ao céu a alma de Frei Pedro Palácios ao som dos sinos da Ermida da Penha.
Seus sucessores ampliaram a primitiva Capela fundada em 1558, como diz a inscrição, e construíram o convento que abriga hoje a imagem de Nossa Senhora da Penha, encomendada por Frei Pedro em Portugal e aqui chegada um pouco antes da inauguração da Igreja. Dizem que o Frei a encomendara a um amigo em Lisboa, para o qual mandara um "croquís" e as dimensões da mesma. Tendo ele se esquecido de providenciar a aquisição, na véspera da partida do navio para o Espírito Santo, um desconhecido se apresentou ao comandante, entregando-lhe a encomenda que não lhe fora feita e que, apesar disso, veio como Frei Pedro pedira.
A Igreja da Penha de Vitória é uma das mais famosas e lendárias de nosso país e entre os milagres que glorificam este santuário conta-se o seguinte: - Por ocasião do ataque dos holandeses à Capitania do Espírito Santo em 1640, após a tomada do Porto de Vila Velha, eles já começavam a fortificar-se quando, diante de seus olhos atónitos, o santuário foi se transformando em castelo cercado de fortes muralhas e defendido por um esquadrão de soldados. Do monte descia muita gente a pé e a cavalo, todos com armaduras reluzentes e bem preparados. No morro, no entanto, não havia ficado pessoa alguma e a própria imagem tinha sido removida para o convento de São Francisco. À vista desse espetáculo aterrador, os holandeses fugiram desordenadamente e voltaram às suas naus.
Este milagre, assim como muitos outros acontecidos por intermédio da Virgem Maria, foi perpetuado em famosa tela do pintor Benedito Calixto e o Convento a Penha é hoje o símbolo do Estado do Espírito Santo, figurando nas armas e no selo do território capixaba.
Iconografia: A imagem comum do título é a do viajante a cavalo, atacado por uma cobra e salvo por um jacaré versão brasileira do lagarto). No alto vê-e Nossa Senhora da Penha com o menino Jesus no braço esquerdo e a mão direita estendida, segurando às vezes um cetro. Esta representação da Virgem da Penha é, geralmente em pinturas, pois as esculturas mostram só Maria com o menino ao colo.
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Igreja Matriz ápós a última reforma |
3. Nossa Senhora da Penha, em Pocrane
Nosso 6°. Pároco, Pe. Waldir da Silva Soares, auxiliado pelo Dr. Taumaturgo, discorre sobre o culto a Nossa Senhora da Penha, nas terras de Pocrane.
“Ao ser criado o Distrito de Paz, foi ele oficialmente batizado com o nome de Nossa Senhora da Penha de Pocrane.
Parece-nos que o nome era já antigo. Quem sabe vindo do frances Guido Tomás Mlarlière, que legou esta devoção ao seu afilhado e fiel servidor Guido Pocrane.
Por essa época os territórios de Minas Gerais e Espírito Santo tinham suas fronteiras conturbadas. E era comum entrar em território Capixaba pensando quê era mineiro e vice-versa. A posse destas terras foi, às vezes, violenta. Muitos combates foram travados até que os limites foram estabelecidos. Apesar disso, pela proximidade de suas terras, pela contínua convivência, aprenderam mineiros e capixabas a respeitar e admirar os valores de cada um.
Há muitas coincidências entre Nossa Senhora da Penha de Vila Velha e Nossa Senhora da Penha de Pocrane.
Sabem os antigos dessa região que a atual Avenida Minas Gerais era separada da rua São Benedito (ou rua Sagrados Corações) por um pequeno outeiro, conhecido pelo nome de "Morro da Igreja". Afirmam ainda que, no alto do morro, havia uma pequena formação rochosa, o que faz tornar-se semelhante ao lugar onde está o Convento da Penha. Naturalmente, o nosso em menor proporção. (Pocrane está a 242 metros de altitude da Penha onde está o Convento). O certo é que, em ambos os casos, houve uma grande prova de devoção à Santíssima Virgem, Senhora de tantos nomes.
É bom esclarecer que, no limiar de nossa história, a festa da padroeira era realizada de 1°. a 15 de agosto, todos os anos. Ela era comparada à festa do mês de Maria e à dos Reis, realizada do Natal a 06 de janeiro.
Feliz o povo que preserva a sua história. Dela fazem parte os locais, os personagens, os momentos, os acontecimentos, as circunstâncias, os costumes e as crenças. Sem tais elementos, ausente estaria a história. E um povo sem história, transforma-se em uma comunidade morta. Pocrane tem a sua história politico-administrativa, social e religiosa. Levando em conta que Penha significa penhasco, rocha, pedra, faz sentido a nossa paróquia trazer o nome da padroeira: Nossa Senhora da Penha!”
A Pré-História da Paróquia
1. O Indígena Guido Pocrane
Guido Tomás Marlière, francês, militar, viera para o Brasil junto com a corte de Dom João VI (1808). Após um grande trabalho com os índios de Presídio (hoje Visconde do Rio Branco), Marlière realiza com êxito missões nos aldeamentos do Rio Doce e, aos 29/04/1824, é nomeado pelo Imperador "Comandante de todas as Divisões do Rio Doce".
Em vez de lutar contra os índios, Marlière os procura conquistar com a amizade, valorizando-os e respeitando seu modo de viver. É nessa época que tem os primeiros contatos com o índio Pocrane, que habitava a região onde hoje se encontra a cidade de Pocrane. Vamos transcrever uma página do historiador mineiro Oiliam José, em seu livro "Marlière, o Civilizador":
"Pocrane tornou-se conhecido de Marlière em 1819, quando, em companhia de outros botocudos, foi até o quartel do civilizador. E daí por diante grande afeição uniu os dois.
Pocrane converteu-se à Igreja, batizou-se pouco depois, tendo Marlière por padrinho e acompanhava com interesse as cerimónias religiosas. Todavia, não deixou, apesar dos esforços de Marlière e de missionários que com ele lidavam, a poligamia e o hábito de vingança contra os puris. Mantinha quatro mulheres e procurava formar os filhos nos hábitos civilizados.
Não possuía o vício da embriaguez, tão comum entre seus irmãos da selva, e era de grande lealdade para com seu benfeitor, a cujas ordens penetrava nas matas para atrair os de sua raça à civilização. Corno "língua" ou intérprete, prestou a Marlière inestimáveis serviços, permitindo-lhe fazer entender-se pelos botocudos.
Usava calçados, mantinha plantações e criava animais domésticos num sítio vizinho do Ribeirão Pocrane, um dos tributários do Rio Manhuaçu.
Revelou tal apego à vida civilizada que não parecia proceder dos matos. Sofreu intensamente com a reforma de Marlière.
Faleceu em 1843, como soldado da 2ª Divisão, em idade relativamente jovem: cerca de 40 anos.
No meio em que residia, aplicava castigos aos indígenas indisciplinados.
Pocrane impressionava por seus hábitos de civilizado a quantos com ele lidavam.
Em homenagem à sua memória, deram o nome de Pocrane à cidade mineira cujos alicerces ele lançou e a qual se ergue nas terras outrora habitadas pelo decidido indígena e afilhado de Marlière."
Segundo o Dr. Taumaturgo, "o nome do índio Pocrane, para os dicionários de nossa língua, significa perneta ou maneta, o que sugeriu a muitos que esse índio fosse defeituoso de um desses seus membros ou de ambos. Entretanto, por um estudo mais acurado e em razão do trabalho catequético e pacificador que ele exercia, podemos pensar que ele recebera esse nome porque, a partir de então, ele não teria braços e pernas para a guerra, mas somente para a paz. O que significa que para a guerra, para as lutas desnecessárias ou para o canibalismo, ele se tornou Pocrane. O homem que não tinha braços, nem pernas para as finalidades que não fossem a paz e o trabalho.”
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A antiga igreja de Nossa Senhora da Penha |
2. O arraial de Nossa Senhora da Penha
Quem nos dá essas informações abaixo é o historiador pocranense Jonathas Durço, em seu livro "Pokrane" (1989).
Aos 17 de maio de 1843, Manoel António de Souza, antigo soldado que havia servido à Coroa, com permissão dos Comandantes dos Quartéis de Divisões, desceu o Rio Manhuaçu e se apossou dos terrenos do Rio José Pedro (Ipanema), Passagem (Açaraí), até o Aldeamento de Pocrane, chegando depois até Mutum.
Embora fosse de extensão tão grande, pouco valia. No ano seguinte, vendeu todo o território, por 60$000 (sessenta mil réis), ao Sr. António Dutra de Carvalho, que lhe pagou com dois burros e um poldro, que valeram 160$000, recebendo ainda 100$000 de volta.
Só na década de 1870, é que algumas famílias vindas do Estado do Rio, fazendo picadas na Mata, chegaram à região de Pocrane, liderados pelo Sr. Alves. Primeiras famílias: dos Alves, dos Bello (Coelho Pinto), dos Adrião, dos Oliveira, dos Pinto, dos Máximo e Gustavos.
São conhecidos alguns nomes desses primeiros habitantes brancos da região de Pocrane, que ajudaram a construir o arraial de Nossa Senhora da Penha: Joaquim Alves Pinto (Quinca Pinto), Belarmino Coelho Pinto (Bello), Pedro Alves de Lima, João Pinto (1874), João Inácio da Costa, José Máximo, Francisco Alves Pinto, António Rosa, Rosa Escrava, João Caetano, Manoel Alves, João Rodrigues, Joaquim Maurino, José Francisco de Lima, Luís Inácio de Bem, Luiz Congo, Martinho Rapadura, Joaquim Gama, António de Mello, José Pedra, Luiz Ferreiro, António Antunes de Sá, Fernandes Teixeira Bastos, Josué Gomes Cardoso, João Júlio, Júlio Brandão, João Boy, Francisco Augusto e António de Mello. Vindos de São Paulo (1880), Joaquim Pedro de Brito e seu genro José Rodrigues Pimenta (José Cirilo) estabeleceram-se na região de Taquaral.
3. A primeira Igreja de Nossa Senhora da Penha
O franciscano capuchinho Frei Bento de Búbio, em 1847, foi contratado pela Província do Espírito Santo para "Catequizar os índios da antiga aldeia de Guido Pocrane". Nessa época teria sido construída aqui a Igreja de São Benedito (pouco abaixo da Igreja Batista) demolida na década de 1930. Possuía uma imagem de Nossa Senhora, segundo consta, esculpida em madeira pêlos índios.
A antiga Igreja de Nossa Senhora da Penha começou a ser construída em 1880, pêlos Srs. Alves Bello, Joaquim Máximo e outros. Uma lista de doações dos moradores para as obras da Igreja atingia 206$ 100 (duzentos e seis mil e cem réis). O Documento diz: "Dinheiro pertencente a Nossa Senhora da Penha, entrando nesta conta dinheiro do sino e 12 mil réis das almas".
Sabemos que apenas uma parte dessa Igreja foi construída. No projeto inicial ela teria 2 torres. Só no início do século XX que se retomou sua construção: o projeto foi alterado, ficando mais simples: colocou-se um cruzeiro em vez das duas torres. Nesta segunda fase da construção da antiga Igreja de Nossa Senhora da Penha dirigiram as obras Augusto Olívio de Freitas e Barcelarzim.
4. Distrito e Município de Pocrane
Aos 07/05/1890, pelo Decreto n°. 56, Pocrane se tornou Distrito Policial do Município de Caratinga. Foi elevado a Distrito de Paz, pelo decreto n°. 171 de 22/08/1890, e pelas leis n°. 663, de 18/09/1915; e 673, de 05/09/1916.
Foi transferido do município de Caratinga para o de Manhuaçu, por decreto n°. 418, de 11/03/1891. Incorporado ao município de Rio José Pedro (Ipanema), por lei n°. 556, de 30/08/1911.
Tornou-se município e cidade, por lei n°. 336, de 27/12/1948, compreendendo os distritos da sede, Assaraí e Barra da Figueira (Cf. Toponímia de Minas Gerais).
5. Capela de Pocrane: seu atendimento religioso
Consta que a Capela de Nossa Senhora da Penha de Pocrane, por causa das grandes distâncias e limites incertos, foi atendida no início por Padres de Vermelho Velho, de Caratinga, de Santo António do Manhuaçu e, especialmente, pêlos Vigários de Ipanema. Tempos houve que mesmo padres do vizinho estado do Espírito Santo aqui celebraram e administraram os Santos Sacramentos.
Certamente, zelaram pela Capela de Pocrane: Pe. António Ribeiro Pinto (1918-1920), Cónego António Aurélio Corrêa de Magalhães (1921-1922), Pe. Cândido Lizardo de Souza (1922-1932), Pe. Luís Ernesto (1932-1933), Pe. José Leite de Rezende (1935-1936), Pe. Carlos Greiner (1936-1938), Pe. Rivadávia Gomes da Silveira (1938-1941), com seu irmão Pe. Hermes; e Pe. António Vieira Coelho Torres (1941-1952).
Dessa época, a Cúria Diocesana de Caratinga possui um Relatório da Capela Filial de Nossa Senhora da Penha de Pocrane, com carimbo da Paróquia de Santo António do José Pedro (Ipanema), assinado pelo Vigário: António Ribeiro Pinto (1919), o nosso "santo" Padre António de Urucânia. Ali ele descreve:
"A Capela mede 91 palmos por 40 e acha-se em construção. É empreiteiro da Capela o Sr. Aristeu Alves Pereira. Tem também uma Capela medindo 60 palmos por 30, um altar tosco. Há um sino pesando 45 quilos, 2 bancos pequenos, 2 candeeiros, 2 caixas... alva, cíngulo, amito, 4 toalhas de linho já com alguns estragos, um missal bem conservado, uma pedra d'ara, um cálice de metal branco... 6 castiçais, sendo 2 de metal branco pequenos, 2 de prata pequenos, 2 de metal amarelo e dois castiçais de pau, estilo antigo... uma cruz de ouro pequena, 8 contas de ouro... uma imagem da Padroeira, medindo 45 centímetros, de madeira, bem conservada; uma de São Sebastião faltando as mãos; um crucificado com aste de madeira torneada; uma imagem de São Benedito, com 30 centímetros, também estragada; uma imagem de São João (pequena), S. Coração de Jesus e S. António pequeno em perfeito estado, uma estante de madeira em bom uso, 2 cabeças de cera, uma grande outra pequena, uma porção de cera. O Vigário: António Ribeiro Pinto".
III. A Paróquia de Pocrane. Ontem
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Para ler a provisão de criação basta clicar sobre a imagem. É muito interessante |
1. Três decretos de Criação da Paróquia!
Consta no Livro de Tombo da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de Pocrane que Dom João Batista Cavati, Bispo Diocesano de Caratinga, oralmente e por carta de 14/07/1952, autorizou o Pe. Ricardo Bunzel a residir na Capela de Pocrane, filial de Ipanema. Deveria ter já os livros de Balizados e Casamentos.
O próprio Pe. Ricardo conta-nos que chegou a Pocrane dia 16 de julho de 1952: "Bati aquele sino, a igreja velha tinha um sino ao lado. Tinha uma escadinha. E eu subi a escadinha e repiquei o sino diversas vezes" (Entrevista com Jonathas Durço).
O próprio Dom João Cavati, no Documento da Página 27, afirma que a Paróquia de Pocrane fora erigida verbalmente.
A ereção verbal da paróquia foi pois no dia 16/07/1952.
Mas o Decreto de Instituição Canónica foi formalizado por Dom Cavati, só aos 18 de novembro de 1955, como podem ver no "fac-símile" da página 27.
O mais curioso é que esta Provisão, por algum descuido, não foi lançada nos livros da Cúria Diocesana de Caratinga. E, por isso, dia 16 de julho de 1977 (no Jubileu de Prata da Paróquia!), Dom José Eugênio Corrêa faz outro decreto de sua criação, nestes termos:
"Atendendo ao bem espiritual da paróquia de Pocrane, N. Senhora da Penha, criada aos 16 (dezesseis) de julho de 1952 (mil novecentos e cinquenta e dois), por Dom João Batista Cavati, Bispo de Caratinga, tendo como seu pároco, Pe. Ricardo Bunzel, e não se encontrando nesta Cúria Diocesana Documento Oficial da Criação da mesma, havemos por bem erigir, como pelo presente decreto erigimos, e efetivamente declaramos ereta, a Paróquia de POCRANE (N. S. da Penha), que foi toda desmembrada da paróquia de Ipanema. À Igreja Matriz se há de tributar especial honra, mormente por se conservar nela o Santíssimo Sacramento. Gozará de todos os direitos e privilégios que pelo direito comum competem às Igrejas Paroquiais.
Dado e passado na Cúria Diocesana de Caratinga, aos 1 6 de julho de 1 977.
Dom José Eugênio Corrêa, Bispo de Caratinga.
2. As Divisas da Nova Paróquia
1 . Com o município de Inhapim: Começa no rio Manhuaçu, na foz do córrego Santa Maria; desce pelo rio Manhuaçu, até a foz do ribeirão Alvarenga.
2. Com o município de Alvarenga: Começa no rio Manhuaçu, na foz do ribeirão Alvarenga; desce pelo rio Manhuaçu até a foz do córrego Japecanga.
3. Com o município de Conselheiro Pena: Começa no rio Manhuaçu, na foz do córrego Japecanga; desce pelo rio Manhuaçu até a foz do ribeirão do Bueno.
4. Com o município de Santa Rita do Itueto: Começa na foz do ribeirão do Bueno, no rio Manhuaçu; desce pelo rio Manhuaçu até a foz do rio José Pedro.
5. Com o município de Aimorés: Começa na confluência dos rios José Pedro e Manhuaçu; sobe o espigão divisor da vertente da margem direita do Rio José Pedro, continuando por este divisor (que em parte é divisor de águas do rio José Pedro e ribeirão do Capim), até defrontar a cabeceira do córrego da Lajinha, afluente do Rio São Manuel.
6. Com o município de Mutum: Começa no divisor de águas do Rio José Pedro e ribeirão do Capim, defronte à cabeceira do córrego da Lajinha (afluente do Rio São Manuel); continua pelo divisor da vertente da margem direita do Córrego da Lajinha, constituído pela Serra do mesmo nome, até defrontar a cabeceira do córrego do Areado; desce por este córrego até sua foz no rio José Pedro; sobe por este rio até a foz do córrego do Ingá.
7. Com o município de Ipanema: começa no rio José Pedro, na foz do córrego do Ingá; continua pelo divisor da vertente da margem direita deste córrego, até defrontar a cabeceira do córrego Santa Rosa, no divisor do ribeirão Pocrane e rio José Pedro; prossegue por este divisor geral, até defrontar as cabeceiras dos córregos Santa Maria e Tamanco; atinge aquela cabeceira e desce pelo córrego até sua foz no rio Manhuaçu.
4. Cónego Ricardo Búnzel [1°. Pároco]
Cónego Ricardo Guilherme Búnzel nasceu aos 15 de novembro de 1915, na cidade de Mülhein / Ruhr, Alemanha. Seus pais: Ignatz e Franciske Búnzel. É ele quem explica: Era costume o afilhado receber o nome do padrinho: Ricardo. Recebi o segundo nome de Guilherme em homenagem ao Imperador Alemão, e Búnzel de meu pai. Entrou no Seminário, na Alemanha, onde fez o curso médio e o de Filosofia.
Desejou ser missionário da Congregação dos Sacramentinos de Nossa Senhora, chegando ao Brasil aos 08/02/1939. Esteve apenas um ano em Manhumirim. Recebido na Diocese de Caratinga, fez o curso Teológico em Mariana, encerrando-o em dezembro de 1943. Por causa da II Guerra Mundial, atrasou sua documentação, sendo ordenado Padre somente aos 11/08/1946, na Catedral de Caratinga.
"Vim logo para Ipanema", conta ele, "recebendo as orientações e sábios conselhos de Pe. António Vieira Coelho", de 1946 a 1950.
Em 1951, foi visitar seus pais e, na volta, passou uns meses no Rio de Janeiro. "Dia 16 de julho de 1952, Dom Cavati me mandou para Pocrane, para ser o primeiro Vigário desta nova paróquia."
Construiu logo a sua Matriz e a Casa Paroquial. Quando foi criada a Diocese de Governador Valadares (01/02/1956), a Paróquia de Pocrane passou a fazer parte da nova Diocese; e Pe. Ricardo, do seu Presbitério, sendo Bispo Dom Hermínio MalzoneHugo.
No dia do seu Jubileu de Prata Sacerdotal, 11 de agosto de 1971, ele escrevia: "Graças a Deus, alguma coisa se tem feito nestes anos. Fizemos a nossa bela Matriz, justo orgulho dos Pocranenses. A torre majestosa com seu relógio iluminado que se vê de longe. No interior, os belíssimos vitrais, a via-sacra, o serviço de som, os ventiladores... A Casa Paroquial, ampla e séria, é a residência dos futuros Vigários de Pocrane".
Consta que foi neste dia de seu jubileu que Dom Hermínio lhe conferiu o título de Cónego.
Por motivo de enfermidade, Cónego Ricardo deixa a função de Pároco, em 1972, mas continua residindo em Pocrane, ajudando nos trabalhos pastorais, até seu falecimento, aos 29 de junho de 1990.
5. A construção da Igreja Matriz
É o Cónego Ricardo Bunzel quem escreveu, com sua letra, no Livro do Tombo da Paróquia.
"05/10/1952 foi o grande dia do lançamento da Pedra fundamental da futura Matriz de Pocrane. Com permissão e até exortação de Dom João Cavati, DD. Bispo Diocesano de Caratinga, lancei a pedra fundamental no local perto da Matriz Velha. O Vigário de Ipanema tinha lançado uma Pedra em local distante, mas com a Palavra do Sr. Bispo: "Lance outra", começamos a atividade. Foi celebrada missa campal no local, previamente preparado, com a assistência das autoridades do município e grande afluência da população católica; foi benta a pedra depois da missa, e colocados na urna retratos, moedas e a ata, assinada pelo Vigário e autoridades presentes.
Em março do outro ano, começaram-se as obras, depois da época da chuva. Com Cr$ 30.000,00 em caixa, aventuramos a obra; e, com a graça de Deus e de Nossa Senhora da Penha, saiu tudo admiravelmente. A obra saiu, cresceu e ficou um majestoso templo em honra de Nossa Senhora da Penha: 32 metros por 12, conforme a planta, aprovada por Dom Cavati, com teto de cimento armado. É uma extensão regular, para as nossas necessidades de Pocrane. A Igreja é construída em estilo Gótico (baseada na de Graça Aranha).
Em 08/12/1958, foi levantada a cruz da nova Matriz, iluminada e vistosa; paroquianos das mais longínquas Capelas vieram para assistir à solenidade; no meio dos andaimes estavam os operários e puxaram, com grandes cordas de bacalhau, a Cruz para o seu lugar. Cantando hinos à Santa Cruz, foi o símbolo da cristandade colocado e chumbado no seu lugar definitivo, no alto da torre.
Em quinze de agosto de 1959, tivemos um novo triunfo. Pudemos colocar, no trono do frontispício da Igreja, a imagem de Nossa Senhora da Penha, de marmorite, e 1,50m de altura. Entre aplausos dos comparecidos, tomou Nossa Senhora da Penha posse do seu lugar de honra".